Palavra Semanal do Prior Provincial Dominicano
09/06/21
Fiquemos em nossas casas para não irmos conhecer São Pedro pessoalmente
O próximo final de semana promete ser de muita festa: dia dos namorados e das namoradas seguido pelo dia do “santo casamenteiro”! Os festejos juninos estão batendo nas portas de nossos arraiás e, com eles, chegando as novenas, trezenas, procissões, rezas, promessas, fogueiras com madrinhas e padrinhos, os andores, os mastros, as quadrilhas (a dos santos!), os forrós, os leilões, as comidas típicas, o “pão de Santo Antônio”, os quentões e muitas outras expressões de alegria e de religião popular, sobretudo nos interiores deste “nosso” Brasil e, muito em particular, no nordeste! E, na sequência, ainda neste mês, virão mais dois santos fortes: João Batista e Pedro! São Paulo acaba ficando de escanteio. Pena que, com o fenômeno da urbanização, vai se perdendo muito destes valores culturais.
Estando em Campina Grande, Paraíba, há alguns anos, exatamente na noite mais longa do ano – a de São João – uma amiga minha me levou para ver o que, segundo o povo daquela região, é o “maior São João do mundo!”. No entanto, não é o mesmo o que afirma o povo de Caruaru, Pernambuco, que reivindica para si, o maior São João do planeta. Nesta disputa, não entro! Só sei que foi bom demais! Haja auto controle para não nos arriscarmos antecipar o encontro pessoal com São Pedro e nem sermos motivos desta antecipação para outras pessoas!
Santo Antônio, português, nasceu em Lisboa, em 1190, tornou-se frade franciscano; João, o Batista, nasceu em 24 de junho na Palestina, conhecido como sendo primo de Jesus, intolerante com as injustiças. Já, Pedro, o Simão Pedro – o homem da pesca e das chaves –, discípulo do Mestre, irmão de André, ambos originários de Betsaida, casado, vive da pesca à margem do lago Tiberíades, na Galileia. Deixa tudo para seguir o Cristo. Sua festa é celebrada, juntamente com o apostólo Paulo, em 29 de junho.
O nosso catolicismo popular, tendo sua centralidade na devoção aos santos e santas, chegou, penetrou e, em muitas regiões do Brasil, continua crescendo no ritmo de “muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre”, o que é muito fácil de sentirmos, particularmente com estes três “santos juninos”, que expressam um rosto próprio da fé em Deus, aquecem os corações e fortalecem a resistência dos pobres.
Alegria, música, culinária, fé-devoção na Providência, tudo isso ao redor da mesa, como que sendo construído o Reino de Deus. Celebrar festas como estas é celebrar as maravilhas de Deus na vida das pessoas e das comunidades, numa articulação entre duas espécies de testemunhos proféticos: o de tendência mais sociopolítica e o de tendência mais mística.
Muita gente reza aos santos e às santas; prefiro orar com os santos e as santas, em comunhão com eles e elas; assim sendo, lembramos a vida e as qualidades deles e delas, unindo-nos a elas e a eles, no seguimento de Jesus.
Rezo para que as nossas Mesas com São Domingos, particularmente neste Ano Jubilar, sejam expressões de partilha, de festa, de perdão e de comunhão, valorizando a religião popular e criticando o excessivo “cheiro de incenso” predominante em muitas de “nossas” celebrações. Na conjuntura da pandemia mundial hoje, no momento em que o Brasil está atingindo quase a metade de um milhão de pessoas mortas, vitimadas pelo Covid-19, nossas Mesas precisam ser, em parceria com o “Arraía Fique em casa”, Mesas de esperanças e de advertências: vacina no braço de todo mundo, comida para todas e todos e fiquemos em nossas casas para não irmos conhecer São Pedro pessoalmente.
Frei José Fernandes Alves, OP.
– Prior Provincial –